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O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) promoveu essa semana na COP26, que acontece em Glasgow, na Escócia, o painel “Soluções baseadas na Natureza como alavanca da solução da crise climática”.

As Soluções Baseadas na Natureza (SbN) – ou Nature Based Solutions (SbN), em inglês – têm sido destaque nos fóruns ambientais internacionais, sendo apontadas como um dos mais promissores caminhos para a compensação de carbono, já que traz benefícios ecológicos, sociais e também econômicos.

Criado pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), o termo define um conceito guarda-chuva que inclui abordagens relacionadas à resiliência de sistemas naturais.

Na prática, é o investimento em projetos que cuidam do meio ambiente ao mesmo tempo em que geram renda. Envolve ações voltadas para, enrte outras coisas, restauração e conservação de ecossistemas, melhoria na gestão da terra, serviços de adaptação climática, infraestrutura natural, gerenciamento de recursos naturais e desenvolvimento socioeconômico derivado da natureza.

A adoção dessas medidas têm enorme potencial e traria grandes vantagens competitivas ao Brasil, país que reúne perto de 20% de toda a biodiversidade do planeta, segundo a ONU. De acordo com o CEBDs, as SbN podem contribuir para a redução de 37% das emissões necessárias até 2030, se forem implementadas nos próximos 10 a 15 anos.

Parte da programação paralela da conferência da ONU sobre o clima, o evento aconteceu no Brazil Climate Action Hub e reuniu cinco participantes, representantes de diferentes setores, para exporem seus pontos de vista sobre o assunto. Confira alguns destaques:

Cristina Gil, diretora executiva de Sustentabilidade da Suzano, falou sobre o amplo trabalho da companhia, que já é carbono negativo, em grande parte envolvendo soluções baseadas na natureza.

“Nosso objetivo é, em 2025, chegar a 40 milhões de toneladas de carbono líquido extraídas da atmosfera. Fomos bastante ambiciosos nesse ponto. As SbN têm um papel importantíssimo nessa captura de CO2. E acreditamos que um mercado regulado do carbono será um motivador para esse tipo de ação de proteção.”

“Nós temos hoje quase 1 milhão de hectares de áreas de conservação nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica, replantando espécies nativas e protegendo esses habitats. Temos ainda programas de proteção de bacias hidrográficas, monitoramento de espécies, entre outras iniciativas. Isso nos faz mais resilientes do ponto de vista do negócio. Estamos muito orgulhosos de realizar tudo isso, que é bom para a natureza, a sociedade e os negócios.”

Valerie Kapos, líder do programa Mudança Climática e Biodiversidade do World Conservation Monitoring Centre, da ONU (UNEP WCMC), destacou a importância de enxergar nas SbN não apenas saídas para a mitigação das mudanças climáticas, mas também uma ferramenta de adaptação.

“Trabalho com isso desde que não tinha um nome, encontrando caminhos em que a natureza pode ser usada para resolver questões climáticas. Falo ‘questões’ porque quando se fala em SbN todo mundo pensa em mitigação das emissões de carbono. Sim, têm um papel importante nisso, mas também um papel na adaptação das mudanças climáticas.”

Henrique Luz, Coordenador Técnico CEBDS, chamou a atenção para a importância da participação das comunidades locais na implementação de projetos que tratam de soluções baseadas na natureza.

“Para alcançar as metas, precisamos ir para o mundo real e, nele, temos pessoas. Cada território é exclusivo na sua relação com o ambiente, por meio da população que vive lá. Se examinarmos a Amazônia, por exemplo, temos milhões de pessoas vivendo na região com diferentes expectativas. Então, projetos de SbN terão que refletir essa diversidade. Temos que ver sempre os impactos sociais, porque são projetos que lidam com a vida das pessoas.”

“Os projetos de conservação, que representam nosso maior potencial em SbN, envolvem grandes áreas e um grande número de pessoas. Então, é algo que precisa ser cuidado. Quando falamos de SbN, não tem produto de prateleira, a participação das comunidades locais é um fator crítico de sucesso.”

Alessandra Fajardo, diretora de Estratégia de Engajamento para Agricultura e Meio Ambiente para América Latina da Bayer, compartilhou um pouco do programa Pro Carbono, desenvolvido na multinacional. O projeto oferece benefícios para os produtores rurais dispostos a ampliar seu potencial produtivo e aumentar a captura de carbono no solo por meio da adoção de práticas sustentáveis. Mais de 1.800 agricultores brasileiros vão participar a partir desta safra 2021/2022.

“Agricultura e SbN são muito interconectadas. Acreditamos em soluções climáticas inteligentes para conservação e agricultura regenerativa. Estamos trabalhando com a Embrapa e universidades brasileiras para criar, por exemplo, um padrão que considere as particularidades dos solos tropicais e o carbono em solos orgânicos. E isso pode ser escalável, inclusive em termos de custo. Em um ano ou dois poderemos publicar algo, algum tipo de recomendação para termos algo mais justo e mensurável.”

Teresa Vernaglia, CEO da BRK Ambiental, falou sobre a relevância da gestão da água diante da crise climática e destacou o combate às perdas do sistema de distribuição como prioridade.

“Vejo muitas oportunidades à frente. Mas é importante dizer que, no Brasil, estamos enfrentando uma das secas mais severas, enquanto que o desperdício dos sistemas de distribuição foi de 40%, o equivalente a sete mil piscinas olímpicas por dia. O aumento das áreas urbanas aumenta ainda mais a escassez de água, o que reforça um esforço mais sustentável. Somos uma empresa em que a água é o centro do nosso negócio. Como dependemos das fontes de água para tratar e disponibilizar para os nossos clientes, temos que preservar as fontes de água doce. Para isso, a sustentabilidade precisa estar em todos os nossos setores.”

“Gostaria de lembrar que recentemente o congresso brasileiro aprovou um novo arcabouço regulatório que quer trazer água para 90% população brasileira, reduzindo as perdas com investimento de bilhões de dólares. E aqui na COP o nosso ministro falou que o principal objetivo, além da universalização da água e o seu tratamento, é reforçar a recuperação de fontes e bacias. É uma grande oportunidade.”

 

*Com informações de Exame