FOTO: Daniel Araújo

“Antes de ir para a manifestação da Greve pelo Clima, em 2019, uma amiga me perguntou: ‘Vocês são ativistas?’. Eu não sabia o que essa palavra significava até ela me explicar que um ativista é quem luta por uma causa. Refleti sobre isso e cheguei à conclusão que nós, indígenas, sempre fomos ativistas. O termo pode ser novo, mas a pauta sempre existiu entre os povos originários. Somos os principais defensores da natureza.” É assim que Samela Awiá, de 24 anos, define o seu posicionamento político-social no mundo.

Nascida em Manaus, ela é estudante de biologia na Universidade do Estado do Amazonas, faz parte do Fridays For Future Brasil – movimento fundado pela sueca Greta Thunberg –, é comunicadora da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, consultora da Fundação Amazônia Sustentável e voz ativa na Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mawé. Aliás, foi nela que tudo começou.

Criada pela avó materna em 1992, a associação é um dos principais pontos de apoio e sustento das mulheres Sateré Mawé. “Lá na década de 1970, elas foram trazidas para Manaus pelo SPI (Serviço de Proteção aos Índios) – atual Funai –, após o falecimento do marido da minha bisavó. Na cidade, elas sofreram muita violência e apagamento cultural. Por isso, se organizaram para manter suas identidades”, conta.

Nascida em 1996, Samela cresceu dentro desse contexto. “A minha história basicamente se resume à associação. Desde que me entendo por gente, estive balançando o meu maracá nos atos, manifestos ou em uma reunião”, lembra. Foi a partir dessas frentes que a Universidade do Amazonas implementou a política de cotas em 2004 – sistema que permitiu Samela ingressar, em 2015, no ensino superior. “Nesse momento, comecei a ser mais crítica e me posicionar enquanto indígena.” Depois da avó e da mãe, hoje ela que cuida do movimento.

Vivendo em trânsito, ora na cidade, ora na aldeia, Samela escolheu estudar biologia pelas vivências da infância. “Eu vendia artesanato na Maloca do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, onde tem o bosque da ciência. Anos se passaram, eu entro no INPA não mais como uma criança vendendo artesanato, mas como uma jovem pesquisadora que faz iniciação científica”, conta, orgulhosa. Com todo esse repertório, não demorou para Samela se aproximar do Fridays For Future. Em 2019, ela ajudou a mapear as necessidades das comunidades indígenas da região quando o movimento fez a campanha SOS Amazônia. Desde então, segue ativa com eles.

É nessa vertente também que Samela atua na Fundação Amazônia Sustentável: os projetos voltados aos povos indígenas incluem distribuição de cestas básicas, kits de higiene pessoal e limpeza, instalação de internet e incentivo a arquearia e canoagem voltados para o esporte. Tudo para preservar a natureza e a cultura do seu povo.

“Nós temos o pensamento coletivo de pertencimento. Ou seja, a natureza é uma extensão da gente. Não existe diferença entre uma árvore e um ser humano ou um animal”, diz. Mas a luta pela proteção da fauna e da flora e da multiplicidade cultural do País deve ser de todos. “As pessoas consideram o pensamento eurocêntrico mais importante que os 305 povos indígenas do Brasil. Ambos devem ser respeitados, mas precisamos de ajuda. Votar em políticos que apoiem os indígenas e que fortaleçam órgãos ambientais é uma das formas de estar com a gente nesta luta. Isso faz parte do entendimento do pensamento indígena, que é a ideia de pertencimento, conexão e extensão.” Sim, sim e sim! (REVISTA GLAMOUR)