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A editora Valer tem a honra de anunciar um dos lançamentos mais aguardados dos últimos anos, de uma das mais importantes obras sobre a inserção da Amazônia no mundo Ocidental – Relação do famosíssimo e muito poderoso rio chamado Marañon –, com a tradução do professor doutor Auxiliomar Silva Ugarte, nesta sexta-feira (13), em evento presencial, na Banca do Largo, no Centro Histórico de Manaus, a partir das 18h.

Em dezembro de 1541, o explorador espanhol Francisco de Orellana, famoso como conquistador do Império Inca, juntou 59 homens num bergantim, e partiu de um acampamento militar, para se tornar o descobridor do rio Amazonas. Nesse período, a Amazônia ainda estava longe de ser inventada, mas a história daquela viagem desbravadora correu o mundo, graças aos escritos do frei dominicano Gaspar de Carvajal, encarregado da liturgia na embarcação e de deixar para a posteridade os registros da expedição.

Quase cinco séculos depois, aquele diário de bordo, tantas vezes publicado em vários idiomas, acaba de ganhar uma nova e talvez definitiva versão em língua portuguesa. O que o leitor do século XXI tem disponível, a partir de agora, pela primeira vez, é a versão completa do texto Relación del famosíssimo y muy poderoso rio llamado el Marañon… (Relação do famosíssimo e muito poderoso rio chamado Marañon. Editora Valer, 2021, 368 páginas).

A relação, aqui no sentido clássico, de relato, é apenas uma de três versões, e a menos conhecida, do testemunho constituído por Carvajal (1504-1584) da expedição de que participou, sob as ordens do capitão Francisco de Orellana, entre 26 de dezembro de 1541 e 11 de setembro de 1542. A versão está inserida na obra de outro cronista espanhol do século XVI, Gonzalo Fernández de Oviedo y Valdés (1478-1557), a Historia general y natural de las Indias, islas y tierra firme del Mar Oceano, que chegou a ser publicada parcialmente na Itália, em 1555, mas só foi editada integralmente na década de 1850, na Espanha.

A tradução de Ugarte representa um importante avanço em relação às outras duas versões mais conhecidas do relato de Carvajal em língua portuguesa, a do estudioso Cândido Melo-Leitão (1886-1948), contida no livro Descobrimentos do rio das Amazonas, de 1941, baseado na versão do espanhol José Toribio de Medina, e a tradução do etno-historiador Antonio Porro, publicada em 1993, na coletânea As crônicas do rio Amazonas, com o título Relação do descobrimento do rio Amazonas, de Gaspar de Carvajal, na versão de Oviedo y Valdés.

Embora seja considerada parcial, foi a versão de Antonio Porro que inspirou Auxiliomar Ugarte a apresentar à Universidade Federal do Amazonas, onde leciona, um projeto de pesquisa para uma nova tradução dos relatos de Carvajal. Porro tornou o texto do cronista espanhol quinhentista, segundo Ugarte, mais acessível e esclarecedor, por meio de notas explicativas, contribuindo, inclusive, para a ampliação do conhecimento da história indígena da Amazônia.

As dezenas de notas bibliográficas reunidas no livro tornam a leitura mais instigante e prazerosa. Ali está a maior parte das notas elaboradas por Antonio Porro, e também algumas da versão de Toribio de Medina, esta utilizada por Melo-Leitão, o que dá ao leitor a oportunidade de comparar detalhes importantes de uma versão em relação à outra.

Para Auxiliomar Ugarte, as notas ajudam a esclarecer aspectos da nomenclatura geográfica empregada por frei Gaspar de Carvajal, a nomenclatura botânica, também, para esclarecer sobre determinados frutos que ele observou ou sobre os quais foi pretensamente informado. Com a ajuda das notas, tem-se verdadeiras aulas sobre o uso de pimentas (axi) na culinária indígena, o cultivo do milho (mahiz) ou da mandioca (yuca), em escala doméstica, mas que mostra o estágio de desenvolvimento das nações indígenas, interrompido com a chegada dos europeus.

Além das notas bibliográficas, a nova tradução da Relação de Carvajal vem enriquecida por um anexo documental, contendo cartas, petições e todos os autos de nomeação e tomadas de posse produzidos durante a viagem, e mais um estudo introdutório, no qual Auxiliomar Ugarte prepara o leitor para a viagem que irá empreender no tempo e no espaço, com a dimensão do deslumbramento desses primeiros viajantes, à medida em que a expedição avança rio abaixo. O conceito Amazônia, como o entendemos hoje, começou a se desenhar ali.

No fim da viagem, depois de nove meses de penúria, fome e mortes, resultado dos ataques sistemáticos de vários povos indígenas, principalmente depois de passarem pelo rio Negro, onde hoje está localizada a cidade de Manaus, frei Gaspar de Carvajal ainda se perguntava que nome teria aquele rio com medidas tão extravagantes e uma foz como jamais fora vista. Seria o Huyapari ou ainda o Marañon, questionou, sem saber que ajudaria a cunhar o nome definitivo do rio que, no futuro, seria reconhecido como o maior rio de todo o planeta, com seus 6.992 quilômetros de extensão.

Foi chamado de “Mar Dulce”, por Pinzon, ao passar por seu estuário, em 1500, e “Rio de Orellana”, depois dessa expedição inédita, até receber seu nome definitivo, Amazonas, provavelmente por sugestão do rei Carlos V, após ouvir, do próprio Orellana, o relato sobre os ataques que a expedição sofreu de mulheres guerreiras assemelhadas, na visão de Carvajal, àquelas da mitologia grega.

Auxiliomar Ugarte não espera atrair apenas o leitor especializado, antropólogos, historiadores, arqueólogos e literatos, como disse, mas também os leitores comuns que venham a encontrar no livro um conjunto de informações antes não disponíveis sobre a Amazônia.

*Com informações da assessoria