A Petrobras anunciou nesta segunda-feira (25) novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel em suas refinarias. A gasolina subirá 7% e o diesel, 9,1%. Segundo a estatal, os aumentos refletem a elevação das cotações internacionais do petróleo e da taxa de câmbio.

A partir desta terça (26), o litro de gasolina vendido pelas refinarias da Petrobras custará R$ 3,19, ou R$ 0,21 acima do vigente atualmente. Já o litro do diesel sairá por R$ 3,34, alta de R$ 0,28. É o segundo reajuste dos dois produtos em menos de um mês.

O preço da gasolina foi reajustado pela última vez no dia 9 de outubro. No caso do diesel, a última alta foi em 29 de setembro. Desde então, o preço do petróleo continuou se valorizando e o dólar teve um repique na semana passada com a proposta de estouro do teto de gastos para financiar programa eleitoral do governo.

“Esses ajustes são importantes para garantir que o mercado siga sendo suprido em bases econômicas e sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras”, disse a estatal.

Em comunicado divulgado nesta segunda, a Petrobras lembra que percebeu uma “demanda atípica” nas encomendas dos produtos para o mês de novembro, o que reforça a necessidade de alinhamento dos preços ao mercado internacional.

A estatal chegou a recusar o fornecimento de todo o volume pedido pelas distribuidoras de combustíveis do país, transferindo ao mercado a obrigação de importar os produtos. O cenário levou o setor de petróleo a cobrar o fim das defasagens em relação ao mercado internacional.

O anúncio dos novos reajustes ocorreu logo após o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), dizer em entrevista a uma rádio do Mato Grosso do Sul que não é “malvadão” e que não quer “aumentar o preço de nada”.

“Alguns me criticam, o preço do combustível, o preço do gás. Eu não sou malvadão, eu não quero aumentar o preço de nada. Mas não posso interferir no mercado. Se pudesse, iriam dizer que eu queria interferir no preço da carne que vocês produzem no Mato Grosso do Sul”, afirmou Bolsonaro.

Também nesta segunda, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), voltou a apontar o ICMS cobrado dos combustíveis como um dos responsáveis pelo alto preço do insumo e chamou o tributo de “patinho feio da história”.

“E aqui não adianta nós falarmos que é o ICMS que aumenta o combustível. Não é ele que ‘starta’, e sim o preço do barril do petróleo na política da Petrobras mais o dólar. Mas ele é tio, o primo, o patinho feio da história”, disse, durante a Conferência Internacional da Datagro sobre Açúcar e Etanol, em São Paulo (SP).

Lira lembrou que o percentual cobrado de ICMS não é fixo, mas variável em cima de um valor. “E quando ele geometricamente sofre alteração todas as semanas ou de 15 em 15 dias é lógico que isso influencia diretamente no bolso do consumidor brasileiro”, afirmou.

Há duas semanas, a Câmara aprovou um projeto que torna fixo o ICMS incidente sobre os combustíveis. A mudança é defendida por Bolsonaro e contou com forte articulação do presidente da Câmara para avançar entre os deputados após modificações à proposta enviada pelo Executivo.

Entretanto, desde então, a matéria não tem tido sinais claros de que vai avançar rapidamente no Senado em meio a reclamações de governadores. Eles alegam que vão perder R$ 24 bilhões em arrecadação com a mudança da tributação do ICMS.

A série de reajustes nos preços dos combustíveis nos últimos meses tem provocado estragos na popularidade do presidente e é um dos fatores que levaram o IPCA, o índice oficial de inflação, a superar a barreira simbólica de dois dígitos em 12 meses em setembro, quando esse indicador chegou a 10,25%.

Em seu comunicado, a Petrobras diz que “reitera seu compromisso com a prática de preços competitivos e em equilíbrio com o mercado, ao mesmo tempo em que evita o repasse imediato para os preços internos, das volatilidades externas e da taxa de câmbio causadas por eventos conjunturais”.

Com repasses dos últimos reajustes, o preço médio do diesel nos postos brasileiros chegou na semana passada a R$ 4,983 por litro, se aproximando de quebrar pela primeira vez a barreira dos R$ 5. O diesel S-10, com menor teor de enxofre, já é vendido, em média, a R$ 5,048 por litro.

De acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o preço médio da gasolina no país chegou a R$ 6,361 por litro. Em oito estados, o combustível já é encontrado por mais de R$ 7 por litro.

A escalada do preço do diesel gerou esta semana paralisação de empresas transportadoras de combustíveis de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, com reflexos sobre a renovação de estoques de postos de gasolina nos dois estados.

Tem sido combustível também para a insatisfação de caminhoneiros, que prometem paralisação no dia 1º de novembro para cobrar ação do governo, que anunciou na quinta (21) um auxílio de R$ 400 para a categoria em tentativa de esfriar os ânimos. (REUTERS)