Paulinho Faria foi apresentador oficial do Garantido por mais de três décadas. (Imagem: Reprodução)

“Com imensa tristeza comunico que neste instante acabou de falecer o meu querido irmão Paulinho Faria”, 61, publicou Zezinho Faria na sua rede social, falando sobre um dos ícones do boi Garantido, que perdeu nesta segunda-feira (22) a luta contra a Covid-19, em Manaus.

Durante mais de 30 anos Paulinho Faria foi apresentador do Vermelho, o “menino de ouro”, sendo até hoje considerado o eterno item do bumbá. Ele estava internado desde o dia 30 de janeiro em Parintins, de onde foi transferido do hospital Padre Colombo para o Jofre Cohen, no dia 2 de fevereiro. Nesta sábado havia sido intubado.

Segundo seu irmão Zezinho, ao ser internado o irmão estava com 75% dos seus pulmões comprometidos pela doença. Paulinho havia sido transferido há alguns dias para Manaus após receber os primeiros cuidados médicos na cidade de Parintins, após testar positivo para Covid.

O ex-apresentador foi eternizado na baixa de São José, na inauguração da Universidade do Folclore “Paulinho Faria” na antiga Cibrazem, em 2009. Na época, revelado e lançado ainda na década de 80 por Paulinho Faria, o atual apresentador Israel Paulain agradeceu ao Paulinho e ao irmão dele Zezinho Faria, pela contribuição artística e apoio dentro da agremiação. O boi Garantido se confunde com o Paulinho e o Paulinho se confunde com o Garantido.

O Festival de Parintins pode ser dividido entre antes e depois de Paulinho Faria. A família, que torcia, incentivava e ajudava, mas mantinha certa distância, se viu no centro do boi quando o menino, que aos 13 anos começou no rádio, virou apresentador do Garantido, em 1975. A irmã, Graça, cuidava dos itens individuais. Antônio e Omir trabalhavam na estrutura cultural. Zezinho foi presidente. O pai, o empresário João Pedro Faria, o JP, financiava, cedia armazéns, liderava os filhos. A mãe, Maria Ângela Faria, é a eterna “Madrinha do Garantido”.

Foram 26 anos à frente do item, com 24 vitórias. Na única derrota, ele perdeu de 10 a 0, as três noites, o que, por si só, desqualifica o resultado.
Tirando toadas

Paulinho, nos últimos anos, não precisava nem falar. Bastava levantar o microfone e a torcida entrava em transe. Os rivais também o chamavam de “grilo”, por ser muito magro e dono de voz aguda e penetrante. Os levantadores tinham dificuldade em acompanhá-lo quando, sem harmonia, só na percussão, feita por treme-terras e caixinhas, “tirava” a toada num tom muito alto.

Foi assim, inteiramente no gogó, que Paulinho criou sucessos imortais. É o caso de “Quando eu chegar pra brincar”, de Braulino, que, anos depois, seria o autor de “Tic-Tic-Tac”, maior sucesso internacional dos bumbás, com o Grupo Carrapicho.

O radialista-apresentador impulsionou o Festival de Parintins à base de rivalidades. Primeiro, contra Armando Carvalho, talentoso apresentador do Caprichoso. Depois contra Zé Maria Pinheiro. O rival tinha um serviço de som e ele criou um para a empresa do pai, a famosa picape amarela, pretexto para usá-lo no Garantido. Zé Maria, para completar, torcia pelo clube de futebol Amazonas, adversário histórico do “azulão”. Então, de janeiro a janeiro, fosse no futebol ou no festival, os dois saiam pelas ruas se digladiando. (PMS)