Sofia Albuquerque | Mayla Phoebe

Duas irmãs mineiras fizeram história no Brasil após passarem por uma cirurgia de redessignação sexual, popularmente conhecida como mudança de sexo. Sofia Albuquerque e Mayla Phoebe, 19, nasceram com o sexo biológico masculino, mas já pensavam na transição antes mesmo de atingirem a maioridade. Elas são as primeiras gêmeas do país a realizaram o procedimento e passaram por ele quase que ao mesmo tempo.

A cirurgia de Mayla ocorreu no último dia 10, no Hospital Santo Antônio, em Blumenau (SC), com duração de cinco horas. Já Sofia passou pela cirurgia no dia seguinte, na quinta-feira (11). As duas receberam alta médica e estão em recuperação na cidade catarinense. Os procedimentos cirúrgicos foram pagos pelo avô das gêmeas, que vendeu uma casa para ajudá-las.

Ao BHAZ, Sofia explica que a cirurgia só finalizou algo que as duas já sabiam. Desde novas, as gêmeas já identificavam que o corpo masculino não representava o que elas eram de verdade: “Eu fiz a cirurgia porque não me sentia confortável com o corpo que vim ao mundo, então eu readequei ele da forma que eu queria que ele ficasse para eu poder viver sem nenhuma frustração”, diz.

Nascidas no interior de Minas, na cidade de Tapira, no Alto Paranaíba, Mayla e Sofia tiveram o apoio dos pais durante todo o processo de mudança. Pelas redes sociais, Mayla conta que o único medo da família foi em como seria a aceitação da sociedade. “Eles [pais] me apoiaram desde sempre, nunca tive rejeição. Meus pais sempre souberam, foi como se eu já tivesse nascido mulher”, conta.

Ressignifique sua luta

Apesar do histórico do Brasil em relação às pessoas trans não ser minimamente aceitável no quesito respeito à vida, o ato das duas irmãs é um marco histórico, já que Sofia e Mayla foram as primeiras gêmeas a passarem por cirurgia de mudança do sexo masculino para o feminino no país.

Sofia explica que tem consciência de que as duas vivem em uma sociedade que desvaloriza a vida das pessoas trangêneros, mas que isso não a impede de lutar pelo direito à vida com dignidade. “Mesmo estando no país que mais mata pessoas trans no mundo, isso pode melhorar, e isso começa a partir da gente. Precisamos mostrar que também somos seres humanos, iguais a todo mundo”, pondera.

“Você nunca vai conseguir se enxergar ou incentivar alguém se você não se importa com isso, pra importância que aquilo tem. Não adianta você ir ali e fazer uma cirurgia e falar ‘ah pronto, fiz a ressignificação’. Você tem que mostrar quem você é, você tem que lutar pelo direito que você quer conquistar e, acima de tudo, conquistar o respeito da sociedade. Mas o país onde a gente mora não dá visibilidade pra gente crescer e viver”, afirma.

‘Nada é permanente, salvo a mudança’

Enquanto se recupera da cirurgia, Sofia conta com leveza que está tranquila com a transformação. O sonho de infância que foi concretizado este ano tomou um significado importante na vida dela e da irmã, o do direito a liberdade de escolha e tomada de decisões sob o própria corpo. “Não é porque algo vai ficar pior que vamos deixar de lutar. Nada é permanente, salvo a mudança. Tudo flui, a única certeza que temos é que as coisas podem mudar”, reflete.

A jovem ainda explica que ainda há muito a se caminhar até a justa conquista dos direitos básicos para pessoas transgêneros. Mas isso não desanima quem já passou uma vida inteira lutando por visibilidade e reconhecimento. “Não é só minha ressignificação que pode incentivar outras pessoas, o que incentiva de verdade é a luta, é os direitos que estou lutando pra conquistar e o respeito.”

Acesso à cirurgia pelo SUS

Apesar das gêmeas terem feito o procedimento por rede particular, esse tipo de cirurgia pode ser feito gratuitamente pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Segundo o Ministério da Saúde, os hospitais que podem realizar cirurgias de transgenitalização são: Hospital das Clínicas de Porto Alegre, HC da Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, HC da Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, HC da Universidade de São Paulo e Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro.

Já o acompanhamento preventivo para crianças e adolescentes de 3 a 17 anos é feito apenas em três cidades no Brasil. São elas: São Paulo, Campinas e Porto Alegre. Para ter acesso aos serviços do processo transexualizador do SUS, é preciso pedir encaminhamento em uma unidade básica de saúde.

De acordo com a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), os procedimentos mais procurados são de hormonização, implantes de próteses mamárias e cirurgia genital em travestis e mulheres trans, assim como a mastecomia e histerectomia no caso dos homens trans. (BHAZ)