A maioria das vítimas são meninas. FOTO: Kiana Hayeri/NYT

Uma explosão próxima a uma escola de ensino médio, durante as aulas das meninas, deixou ao menos 55 mortos e mais de 150 feridos neste sábado (8) em Cabul, no Afeganistão.

Segundo o ministério do Interior, que confirma oficialmente 30 mortes, as estudantes são a maioria das vítimas.

O ataque é o maior desde que o presidente americano, Joe Biden, anunciou a retirada das últimas tropas do país até setembro, no mês passado.

A destruição diante da escola Sayed Ul-Shuhada, que recebe meninos e meninas em horários alternados, foi causada por um carro-bomba, segundo uma autoridade policial e testemunhas disseram sob condição de anonimato à agência de notícias Reuters. Por enquanto, nenhum grupo assumiu a autoria da ação.

O presidente Ashraf Ghani culpou o Taleban. “Ao aumentar sua guerra e violência ilegítimas, o Taleban mostrou novamente que eles não estão apenas relutantes em resolver a crise atual de maneira pacífica, mas também complicando a situação.”

Destroços do carro-bomba que explodiu no portão da escola secundária Sayed Ul-Shuhada. FOTO: Kiana Hayeri/NYT

O grupo fundamentalista, por sua vez, negou ligação com a explosão e condenou o atentado.

A ação aconteceu em um distrito da capital de maioria xiita que tem enfrentado atentados brutais promovidos pelo grupo terrorista Estado Islâmico há alguns anos, incluindo um ataque a uma maternidade exatamente um ano atrás.

Na semana passada, 44 civis e 139 agentes do governo haviam sido mortos no país, a mais alta taxa em uma única semana desde outubro, segundo dados do New York Times. Foram dias de violência no país, com ofensivas no norte e no sul desde que a retirada das tropas da Otan (aliança militar do Ocidente) começou.

Apenas um dos ataques, com um carro-bomba que explodiu em Logar, uma província ao sul de Cabul, matou mais de 20 pessoas.

O atentado deste sábado atingiu a cidade com ruas lotadas, enquanto moradores se preparavam para o fim do mês sagrado islâmico, o ramadã.

Imagens do canal de televisão ToloNews mostravam cenas caóticas do lado de fora da escola, com livros e mochilas espalhados por uma rua ensanguentada e moradores correndo para ajudar vítimas.

O porta-voz do Ministério da Saúde, Ghulam Dastagir Nazari, afirmou que 46 pessoas feridas foram levadas a hospitais da região.

Cabul está em alerta desde que os EUA iniciaram os planos de retirar todas as tropas do Afeganistão. No ano passado, os americanos assinaram um acordo com o Taleban para encerrar a guerra que começou quando tropas dos EUA e forças aliadas invadiram o Afeganistão em resposta aos ataques do 11 de Setembro.

Arquiteto da ações coordenadas que deixaram quase 3.000 mortos em território americano, o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, estava sendo protegido pelo governo do Taleban.

Pelo trato, Washington precisa retirar suas tropas (são cerca de 3.500 americanos e 7.000 aliados) em troca de garantias de segurança do grupo extremista.

Desde então, os ataques do Taleban a forças estrangeiras diminuíram muito, mas eles continuam a mirar forças do governo. Jornalistas, ativistas e acadêmicos também foram mortos em ataques atribuídos ao grupo —que nega envolvimento.

No Twitter, o principal diplomata americano no Afeganistão, Ross Wilson, condenou os ataques deste sábado. “Este ataque imperdoável a crianças é uma ameaça ao futuro do Afeganistão”, escreveu.

O vizinho Paquistão, que tem influência considerável sobre o Taleban e está estimulando o grupo a reiniciar conversas de paz e concordar com um cessar-fogo, também condenou a explosão na escola.

O novo atentado vem num momento em que grupos de defesa dos direitos humanos expressam preocupação de que a saída dos americanos possa colocar em perigo as mulheres afegãs, caso o Taleban consiga aumentar sua influência no país.

Nos anos 1990, sob o domínio do grupo, mulheres eram proibidas de ir à escola ou trabalhar e podiam ser espancadas por saírem de casa, entre outras regras opressivas. (FOLHAPRESS)