A abordagem foi feita por meio de questionários respondidos e enviados de volta aos pesquisadores.

Levantamento realizado pela UFRJ, com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, com escolas da rede pública e privada do Rio de Janeiro aponta algumas possíveis consequências do isolamento social nas crianças na primeira infância.

• Dados sobre o ambiente de aprendizagem em casa mostram que a diferença de atividades que ajudam a estimular as crianças em casa, como pintar, desenhar, recortar e ouvir histórias, são mais frequentes entre as famílias com nível socioeconômico mais alto. A diferença chega a mais de vinte pontos percentuais entre os mais ricos e os mais pobres;

• Para mais de 60% das famílias de crianças na escola pública, a falta de acesso ou a baixa qualidade do acesso à internet é uma dificuldade na oferta de atividades remotas. No caso de crianças da escola privada, esse problema atinge a apenas 17% das famílias;

• Na percepção de mais de 70% dos professores, houve impacto negativo no desenvolvimento da expressão oral, corporal, no relacionamento interpessoal e até na nutrição das crianças durante o isolamento;

• Mais de 30% das crianças apresentam níveis de quantidade de sono, exercício e frequência de estada ao ar livre abaixo do adequado. E 32% das crianças tiveram tempo de exposição às telas acima do considerado adequado;

• O estudo estima que 15% dos responsáveis pelas crianças perderam seus empregos no período, enquanto o percentual deste grupo que sofreram diminuição de renda chegou a 27%;

• Mais de 30% das famílias de crianças em escolas públicas não mantiveram nenhum contato com os professores durante a pandemia. Esse percentual cai para 10% no caso de famílias de crianças em escolas privadas;

• Enquanto 43% das famílias com crianças em escolas privadas dizem não ter encontrado nenhuma dificuldade no contato com os professores; entre as famílias da escola pública esse percentual fica em apenas 13%;

• Por outro lado, 96% das escolas públicas alegam ter enviado algum material físico para suporte a atividades com as crianças em casa, enquanto entre as escolas privadas, essa mesma ação foi praticada apenas por 50% das escolas privadas;

Quais os efeitos do fechamento das escolas e da quarentena no bem-estar e desenvolvimento das crianças? Quais as estratégias adotadas pela rede e escolas para apoiar as crianças e as famílias durante o fechamento das escolas? Com o objetivo de responder a essas perguntas, a equipe do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais, o Lapope, da UFRJ, desenvolveu um estudo escolas de educação infantil das redes pública e privada de duas cidades – uma do Sudeste e outro do Nordeste do país.

O estudo contou com a participação de diretores e professores das escolas e com os responsáveis das crianças que frequentam essas unidades educacionais. A abordagem foi feita por meio de questionários respondidos e enviados de volta aos pesquisadores. Além disso, o estudo contou também com a coleta de informações sobre as crianças.

Os resultados sugerem impactos importantes em diferentes dimensões do desenvolvimento infantil. Alguns dos achados do estudo:

• Aprofundamento das desigualdades educacionais, com aumento das diferenças entre crianças vulneráveis e não vulneráveis.

• Impactos no aprendizado e perda de vínculo com a escola podem ter impacto no aumento do abandono escolar.

• Estudos que analisam o relato dos responsáveis com crianças entre 2 e 5 anos sugerem impactos negativos no desenvolvimento socioemocional e bem-estar.

• As oportunidades de aprendizagem na primeira infância foram negativamente afetadas, em especial para crianças vulneráveis.

Dados sobre o ambiente de aprendizagem em casa mostram que a diferença de atividades que ajudam a estimular as crianças em casa, como pintar, desenhar, recortar e ouvir histórias, são mais frequentes entre as famílias com nível socioeconômico mais alto. A diferença chega a mais de vinte pontos percentuais entre os mais ricos e os mais pobres.

Para a maioria dos professores, o percentual chega a 78%, houve impacto negativo no desenvolvimento da expressão oral, corporal, no relacionamento interpessoal e até na nutrição das crianças durante o isolamento.

Ao verificar os resultados sobre os hábitos das crianças durante a pandemia constatou-se que mais de 30% das crianças apresentam níveis de quantidade de sono, exercício e frequência de estada ao ar livre abaixo do adequado. E 32% das crianças tiveram tempo de exposição às telas acima do considerado adequado.

Além desses e de outros resultados sobre as crianças, o estudo traz também dados sobre o contexto relacionado à saúde e atividade econômica dos adultos. Esse recorte também é importante pois sabemos por evidências científicas que dificuldades relacionadas à saúde ou ao trabalho dos cuidadores podem afetar a disponibilidade dos responsáveis exercerem a parentalidade positiva, o que, por fim, impactam no bem-estar da criança.

Alguns dos dados coletados mostram que 15% dos responsáveis pelas crianças perderam seus empregos no período, enquanto o percentual deste grupo que sofreram diminuição de renda chegou a 27%.

Essas são algumas das conclusões da pesquisa atual. Uma próxima onda de entrevistas ocorrerá no retorno às aulas presenciais, quando será possível aferir se a percepção atual dos professores sobre os impactos da pandemia e do isolamento se confirmarão. “Embora os dados que temos atualmente sobre o impacto das crianças vêm da percepção dos professores, são opiniões que estão alinhadas com o que a literatura internacional indica sobre os efeitos da pandemia nas crianças dessa faixa etária”, diz Tiago Bartholo, da UFRG.

Entre os estudos citados por Bartholo, estão um feito na Holanda e outro na Bélgica e na Inglaterra. O primeiro comprovou que as atividades remotas têm efeitos pequenos – quase nulos no desenvolvimento dos pequenos. O segundo evidencia que o isolamento social teve efeito no desenvolvimento infantil. “É importante notar que estamos falando de países cujas desigualdades educacionais são menores do que o Brasil. Não será surpresa, infelizmente, se os dados que coletaremos na última fase do estudo, no retorno das crianças à escola confirmarem o que esses dois estudos trazem e a percepção atual dos professores”, diz o pesquisador.

Apoiado e financiado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, o Estudo longitudinal na educação infantil e os desafios da pandemia do Covid-19 é um trabalho realizado pelos pesquisadores Mariane Koslinski e Tiago Bartholo, do Laboratório de Pesquisa em Oportunidades Educacionais (LAPOPE), da Universidade Federal do Rio De Janeiro – UFRJ.

Por que falar sobre o assunto:

– Alertar para os impactos da pandemia no desenvolvimento das crianças;

– Reforça a necessidade de atividades lúdicas para apoiar o desenvolvimento infantil;

– Evidencia a importância da Educação Infantil no desenvolvimento das crianças na primeira infância.

*Com informações da assessoria