Camila Queiroz como Angel em "Verdades Secretas 2" - Foto: Estevam Avellar / Globo

“Para estender seu contrato por apenas sete diárias a mais, Camila Queiroz fez um conjunto de exigências que não existe no mundo da produção audiovisual”, afirma Ricardo Waddington, diretor de entretenimento da Globo. “Ela queria alterar o desfecho da Angel (personagem de “Verdades Secretas 2″). O Tony Ramos não pode fazer isto, a Fernanda Montenegro não pode fazer isto”.

​Waddington entrou para a emissora em 1982, como assistente de direção. Não demorou para se tornar diretor geral, assinando novelas como “Vale Tudo” e “Por Amor”. Depois se tornou diretor de núcleo, responsável por títulos como “Cordel Encantado”, “Avenida Brasil” e “Amor & Sexo”. Com a recente reformulação interna da Globo, foi promovido a diretor de entretenimento, comandando os Estúdios Globo (antigo Projac).

Na nova função, Waddington também supervisiona a contratação de todos os talentos artísticos, o que inclui atores, diretores, roteiristas e apresentadores. Desde o final de 2020, é ele quem capitaneia a mudança na maneira como a Globo se relaciona com esses talentos, substituindo muitos contratos a longo prazo por acordos por obra certa.

A pandemia complicou esse processo, porque gravações foram suspensas enquanto muitos contratos estavam valendo, e depois retomadas quando estes já haviam expirado.

Entre os vários pepinos que brotaram ao longo desse período está o de “Verdades Secretas 2”, a primeira novela brasileira produzida originalmente para o streaming. A trama de Walcyr Carrasco sofreu atrasos na produção, e os contratos de alguns atores precisaram ser prorrogados para mais sete dias de gravações (diárias, na linguagem do meio televisivo).

Com as supostas exigências de Camila Queiroz, a Globo decidiu tirá-la da produção e divulgou a notícia com um comunicado duro à imprensa, falando que a atriz fez “demandas contratuais inaceitáveis” para assinatura da extensão do contrato. Segundo a emissora, “as cenas serão adaptadas para que seja mantida a essência da trama”.

A atriz se manifestou apenas pelas redes sociais até o momento, e afirmou ainda não está pronta para falar sobre tudo o que aconteceu. “Foi tudo muito dolorido”, disse. “Muita mentira vai sair, muita mentira já está saindo. Só peço para que vocês não acreditem, porque isso não é verdade. Em breve, sei lá, algum dia, espero me sentir mais forte para vir aqui falar com vocês.”

Em entrevista por videoconferência, pergunto a Waddington se a ida de Camila Queiroz para a Netflix, onde gravou o reality “Casamento às Cegas”, azedou a relação da atriz com a Globo, como ela mesma vem alardeando.

“Independentemente do que aconteceu na relação contratual de Camila conosco, o que motivou sua saída da emissora foram as exigências que ela fez para cumprir uma extensão de apenas sete diárias”, responde ele. “Todo o resto do elenco concordou em fazer. Não teve uma única pessoa que dissesse ‘ah, não, não vou fazer sete diárias’”.

“Isso não existe”, prossegue Waddington. “Nós somos profissionais. Protegemos com a nossa vida o que a gente faz. ‘O show não pode parar’ não é uma figura de linguagem. É a lei do que nós fazemos. O cara vai lá com febre, doente, a mãe morreu, mas ele sobe no palco e entrega o que tem que entregar”.

Além de alterar o final previsto por Carrasco para Angel e exigir um compromisso formal de que estaria numa eventual terceira temporada, Camila também quis o poder de aprovar a campanha de lançamento de “Verdades Secretas 3”, afirma o diretor.

“A campanha publicitária não é de responsabilidade dos Estúdios Globo”, afirma Waddington. “Nem eu tenho como garantir nada para ela. A campanha obedece a uma lógica de marketing, e temos especialistas que estabelecem essa lógica. Eu tenho 39 anos de Globo, 39 anos que eu trabalho com elencos, e nunca havia visto nada parecido”.

Apesar desse imbróglio de enorme repercussão na mídia, Ricardo Waddington ressalta que a Globo continua em busca de “um modelo de relacionamento mais flexível, mais saudável, mais rico em experiência, que poderia nos dar um viés mais criativo”.

Ele ainda lembra que, apesar da recente contratação de ex-estrelas da emissora por plataformas de streaming, cerca de 3.200 pessoas trabalham nos Estúdios Globo, e que nomes como Lima Duarte, Taís Araújo e Luciano Huck renovaram há pouco tempo seus contratos a longo prazo.

“Não existe nenhuma empresa que acredite mais no conteúdo nacional do que a Globo”, conclui ele. “Somos a casa do artista brasileiro”.

*Com informações de Folha de São Paulo