
O mês de outubro é dedicado para celebrar a importância da conservação dos morcegos na América Latina e Caribe. Em Manaus, há mais de 15 anos, é realizado o Festival dos Morcegos, um evento que tem como objetivo “desconstruir a imagem negativa dos morcegos, sempre associada a vampiros, a transmissão de doenças e outros pensamentos negativos dos colonizadores.”
Esse ano, em virtude da pandemia do Covid-19, o Festival não será realizado. Mas para comemorar, um grupo de conservacionistas está planejando uma trilha de longo curso na região de Manaus, dedicada aos Morcegos.
A Trilha dos Morcegos, como será chamada, fará parte da Rede Brasileira de Trilhas, um movimento nacional que tem como objetivo implementar caminhos de longo curso por todo o Brasil, conectando as diversas áreas protegidas, corredores ecológicos e espaços verdes.
A proposta é que as trilhas, além de serem bonitas e prazerosas, também possam gerar emprego e renda no seu entorno e, sobretudo, funcionar como ferramentas de conservação. Nesse caso, seu desenho é feito para que funcionem como corredores funcionais de fauna, impedindo a fragmentação total das unidades de conservação e permitindo o fluxo de espécies entre elas.

É o que acontecerá com a Trilha dos Morcegos que conectará duas Áreas de Importância para a Conservação de Morcegos (AICOM) do estado do Amazonas: a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sítio Bons Amigos (Manaus) e a Área de Proteção Ambiental Caverna do Maroaga (Presidente Figueiredo).
O trajeto será sinalizado com o padrão adotado pela Rede, que utiliza pegadas amarelas sobre fundo preto em um sentido e pegadas pretas sobre fundo amarelo no sentido inverso. As pegadas seguem o princípio básico de que a sinalização tem que ser de fácil compreensão cognitiva e mantêm o mesmo padrão em todo o território nacional.
O interessante, segundo Felipe Zanusso, membro da Rede Brasileira, é que cada trilha é estimulada a pensar e criar uma identidade local. “A ideia é que cada local crie sua própria pegada, que além do sentimento de pertencimento, pode ser transformada em artigos de venda como camisetas e bonés”.
O traçado da Trilha dos Morcegos está sendo planejado por um grupo de especialistas, incluindo o Marcos Antônio, também conhecido como Marcos Morcegão, que tem se dedicado à conservação desses animais.
A Rede Brasileira de Trilhas
A Rede Brasileira de Trilhas foi inicialmente idealizada como desdobramento natural da Rede Carioca de Trilhas, projeto apresentado à Prefeitura do Rio de Janeiro em 1997, que resultou na primeira Trilha de Longo Curso do Brasil, a Trilha Transcarioca, reconhecida oficialmente em 2017, por Decreto do Prefeitura do Rio de Janeiro .
A sinalização padronizada possibilita a criação de uma identidade visual “Trilhas do Brasil”. Assim, uma simples fotografia de um turista publicada em uma rede social servirá para divulgar não apenas aquela trilha, mas toda a Rede e, consequentemente o país como destino ecoturístico. Essa foi uma das razões pelas quais, em 2018, a Rede Brasileira de Trilhas foi uma das vencedoras do Prêmio Nacional de Turismo .
As AICOM
As Áreas de Importância para a Conservação de Morcegos (AICOM) são áreas criadas para garantir a conservação das inúmeras espécies de morcegos, certificadas a partir de critérios rígidos, com a finalidade de proteger o ambiente que abriga espécies ameaçadas de extinção, espécies endêmicas, migratórias e raras ou com dados deficientes e importantes para o funcionamento dos ecossistemas, incluindo espécies que ocupam pequenas distâncias ou com distribuição restrita.
A prioridade sobre a gestão e operação de uma AICOM segue critérios baseados na pressão sobre o meio ambiente, considerando a taxa de perda do habitat e respectiva modificação ou fragmentação dos mesmos e podem abranger áreas sem uma efetiva proteção e áreas protegidas (Unidades de Conservação, APAs, etc.).
Essas áreas são aprovadas e certificadas pela Rede Latinoamericana para a Conservação de Morcegos (RELCOM).